23 setembro 2014

Os super-ricos do Brasil

HÁ UM GRUPO muito pequeno de brasileiros que tem renda média de R$ 198 mil por mês, cerca de 116 vezes a renda média do país. Trata-se de umas 140 mil pessoas, 0,1% dos maiores de 18 anos. Esse milésimo da população ficou com cerca de 11% da renda entre os anos de 2006 e 2012. O grupo do 1% mais rico, ficou com 25%. Os 5% do topo, com 44%.

Sim, quase metade, proporção muito maior que registram os dados da Pnad do mesmo período, essa mesma Pnad que saiu na semana passada. Na média das Pnads, o 1% mais rico ficou com algo em torno de 15% da renda nacional. Os 5% mais ricos, com 35%.

Trata-se das primeiras contas sobre a concentração de rendimentos entre os mais ricos do país calculadas com base nas declarações do Imposto de Renda da Pessoa Física, um trabalho de Marcelo Medeiros, Pedro Ferreira de Souza e Fábio Avila de Castro, todos da Universidade de Brasília.

A Pnad mente? Não, claro que não. A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios do IBGE lida, como diz o nome, com uma amostra, uma parcela representativa da população, que responde perguntas sobre sua renda, entre outros assuntos. No caso da pesquisa baseada no IR, lida-se com registros formais de declaração de renda, limitados a 25 milhões de pessoas, com rendimentos maiores.

Certas características da amostra e do questionário fazem com que a Pnad subestime tanto a renda média como a dos mais ricos. Os entrevistados podem omitir informações, dar respostas imprecisas ou mesmo desconhecer com precisão seus rendimentos, em especial em relação a aplicações financeiras.


Pelo menos esta é a opinião de parte dos especialistas no assunto e, também, fato percebido em estudos da mesma espécie, em outros países. Mas há muita controvérsia a respeito do grau e da relevância da diferença entre os estudos amostrais e os dados do IR, um debate com gente séria dos dois lados, ao menos por ora.

O trabalho de Medeiros, Souza e Castro tenta esclarecer a dúvida, confrontando os dados do IR não apenas com a Pnad, mas com a Pesquisa de Orçamentos Familiares (a POF, também do IBGE) e com o Censo. No Brasil, trata-se de coisa meio inédita.

Além de constatar outra vez discrepâncias entre Censo, POF e Pnad, Medeiros, Souza e Castro afirmam também que a parcela da renda daqueles entre os 5% mais ricos pouco mudou entre 2006 e 2012.

"...É provável que a queda da desigualdade nesse período, identificada nas pesquisas domiciliares, não tenha ocorrido ou tenha sido muito inferior ao que é comumente medido. As pesquisas domiciliares, tudo indica, identificam melhoras na base da distribuição, mas a desigualdade total depende também do que ocorre no topo", escrevem.

Parece esquisito que haja discordâncias essenciais sobre dados e interpretações do que, enfim, parecem estatísticas frias. Mas há divergências ou alternativas até no modo de definir a renda total dos indivíduos, entre outras muitas complicações.

O estudo pode ser encontrado na internet, grátis: "O Topo da Distribuição de Renda no Brasil: Primeiras Estimativas com Dados Tributários e Comparação com Pesquisas Domiciliares, 2006-2012". 


por Vinicius Torres Freire
Fonte: Folha Online - 21/09/2014

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