Artigo:
A unidade
espiritual da igreja é uma obra exclusiva de Deus. Não podemos produzir
unidade; apenas mantê-la. Todos aqueles que nasceram de novo fazem parte da
igreja e seus membros devem demonstrar aos olhos do mundo, de forma visível
essa unidade interna. A desunião dos crentes, portanto, é uma ameaça à igreja e
um escândalo diante do mundo. Essa atitude desonra a Cristo e a própria igreja.
Quando Paulo
escreve sua carta aos Filipenses faz uma transição dos inimigos externos (Fp
1.28), para os perigos internos (Fp 2.1-4). Paulo está deixando a ameaça de um
mundo hostil, para tratar de um problema igualmente ameaçador, o da comunidade
dividida. Paulo alerta para o fato de que uma igreja dividida é uma presa fácil
no caso de um ataque frontal da sociedade externa. Assim, não basta apenas
ficar firme contra os perigos que vêm de fora; é preciso acautelar-se contra o
perigo de esboroar-se por causa das divisões internas. Para o apóstolo Paulo
“uma santa e una igreja” não era apenas um artigo de fé.
Antes de exortar a
igreja de Filipos sobre a questão da unidade cristã, Paulo dá a base
doutrinária. Há quatro pilares que sustentam a unidade cristã. Esses pilares
não são criados pela igreja; são dádivas de Deus à igreja. Paulo coloca esses
fundamentos em forma de cláusulas condicionais, mas ele assume em cada uma que
a condição é verdadeira. Esses pilares já existem e eles precisam ser o
alicerce da unidade. Podemos ver a obra da própria Trindade na construção da
unidade da igreja. Os crentes estão em Cristo, experimentando a realidade do
amor de Deus, pela ação do Espírito Santo. Quais são esses pilares da unidade?
Em primeiro
lugar, exortação em Cristo (Fp 2.1). A palavra grega paraklesis
sugere que há uma obrigação colocada sobre os filipenses, oriunda diretamente
de sua vida comum “em Cristo”, para trabalharem juntos e em harmonia. Paulo
está convidando os filipenses a lembrar-se de seu status de comunidade amada
por Cristo. Todo crente tem recebido encorajamento, exortação e conforto de
Cristo. Essa comum experiência deveria unir os crentes. Ninguém pode caminhar
desunido com seu semelhante e ao mesmo tempo estar unido a Cristo. Ninguém pode
viver a atmosfera de Cristo e viver ao mesmo tempo odiando a seus irmãos.
Em segundo
lugar, consolação de amor (Fp 2.1). Aqui, é o amor de Cristo pela
igreja que Paulo tem em vista. Ao conclamar os crentes para que vivam juntos em
harmonia, Paulo apela para os mais altos motivos: o amor que o Senhor da Igreja
nutre por seu povo deve impeli-los a viver dignamente. O amor de Cristo nos
leva a amar como Cristo nos amou (1Jo 3.16). O amor nos leva a suportar uns aos
outros. O amor nos leva a perdoar uns aos outros.
Em terceiro
lugar, comunhão do Espírito (Fp 2.1). A participação comum no
Espírito, pela qual os crentes são batizados em um só corpo, deveria determinar
a morte de toda desavença e espírito de partidarismo dentro da igreja. O
Espírito Santo trouxe os cristãos de à comunhão uns com os outros. Aquele que
os uniu em Cristo, também os uniu uns aos outros. É o Espírito Santo que produz
a nossa comunhão com Deus e a nossa comunhão com os irmãos. É o Espírito que
nos une a Deus e aos irmãos de tal maneira que todo aquele que vive em desunião
com seus irmãos dá provas de não possuir o dom do Espírito.
Em quarto
lugar, entranhados afetos e misericórdia (Fp 2.1). A palavra grega
splanchna “afetos” significa literalmente “as entranhas humanas”, consideradas
como a sede da vida emocional (Fp 1.8). Enquanto no primeiro capítulo a palavra
está se referindo ao amor de Paulo pelos filipenses, aqui ela se refere ao amor
de Cristo por eles e através deles.
Já a palavra grega
oiktirmoi “misericórdias” é a palavra que descreve a emoção humana da piedade
terna. A irmandade em uma igreja não se limita a “sentimentos” nem se resume em
atividades de ajuda e frias ações. Certamente nossas “entranhas” precisam ser
movidas, e as aflições do irmão precisam despertar em nós uma viva compaixão.
Hernandes Dias
Lopes é pastor, escritor e conferencista
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