Uma igreja evangélica de Campo Grande
(MS) afirma oferecer tratamento para dependentes químicos sem o uso de remédios
e sem a presença de profissionais de saúde. O local, chamado Clínica da Alma é
liderado pastor Milton Marques, que também é ex-viciado em drogas, e é mantido
com doações.
Segundo
informações da Folha Press, a clínica fica localizada em uma chácara a 20 km do
centro de Campo Grande, e atualmente abriga cerca de cem “pacientes” vindos de
cidades de Mato Grosso do Sul e até mesmo de outros estados. Os homens, de
diversas idades, chegam ao local através da indicação de parentes ou após serem
encontrados nas ruas por fiéis da Igreja Tabernáculo da Glória.
- São pais que
não veem os filhos há anos. Perderam emprego, casa e estavam morando na rua – afirma
Marques.
O pastor afirma
que o tratamento dado no local é baseado nos “dizeres da Bíblia”. Ele ressalta
ainda que o uso de medicamentos para o tratamento da dependência química é
totalmente proibido no local.
- Não tem lógica
dar remédios para um dependente e esperar que ele cuide de tomar na hora certa.
Se alguém chegar com remédios controlados aqui, iremos jogá-los fora – explica
o pastor.
Marques explica
que começou o trabalho abrigando os dependentes na sede da igreja, no centro da
cidade, mas que “muitos saíam escondido e continuavam com as drogas”. Após a
transferência do trabalho para a chácara, o Ministério Público Estadual
instaurou um inquérito para apurar violações dos direitos dos dependentes.
Entre as denúncias recebidas contra a clínica está a de cárcere privado e a de
que o pastor ficaria com metade do salário de ex-viciados que conseguem
emprego.
Sobre as
denúncias de cárcere, o pastor afirma que todos os dependentes são livres para
sair da chácara, mas que quando alguém tenta ir embora, os outros internos os
impedem. Mark Diego da Silva, de 23 anos, é um dos internos da clínica e afirma
que tentou fugir três vezes nos primeiros dias, mas que foi impedido por
pacientes que estão no local há mais tempo.
- A vontade é de
sair correndo. Nessa hora, as pessoas que estão há mais tempo aqui ajudam
bastante – relata.
Tratamento
Sem o uso de
medicamentos ou a presença de profissionais de saúde, a rotina dos pacientes da
clínica é dividida entre orações e o trabalho na chácara. O dia a dia dos dependentes
químicos que chegam ao local começa às seis da manhã, quando são acordados para
o café. Após a refeição eles trabalham no local até pararem por volta das 11h
para o almoço. À tarde, a rotina é novamente dividida entre o trabalho e as
refeições e, no fim do dia, os internos são reunidos para orações e estudo
bíblico.
Além do
inquérito do Ministério Público, o local já foi denunciado também pelo CRP
(Conselho Regional de Psicologia), que questiona o fato de o tratamento
oferecido na clínica não seguir os padrões pré-definidos pelos órgãos
reguladores.
- O tratamento não segue o que é
preconizado pelo SUS e não há informação sobre pessoas que tenham se recuperado
– afirmou Carlos Afonso Marcondes Medeiros, que era presidente do CRP na época
das denúncias.
O pastor Milton
Marques responde à denúncia do CRP afirmando reconhecer que o local não tem as
condições ideais pra o tratamento, mas questiona o que é melhor para os
pacientes, ficar na chácara ou voltar para as ruas e continuarem com o uso de
drogas.
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