por
FERNANDA NUNES E KARIN SATO
Analistas financeiros dizem que a concessão de novas áreas para exploração de
petróleo deve pesar no caixa da estatal, que pode ter de fazer nova
capitalização; especialista calcula que os gastos para desenvolver os campos
podem superar US$ 245 bilhões
RIO/SÃO PAULO - Os R$ 15 bilhões em bônus e antecipações, a serem pagos pela Petrobrás à União por quatro áreas do pré-sal da Bacia de Santos, são pouco perto dos investimentos para explorar o petróleo. A petroleira deverá gastar de US$ 245 bilhões a US$ 380 bilhões na instalação de plataformas e infraestrutura de escoamento da produção, segundo cálculo do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE).
O CBIE utilizou como base a estimativa de gasto de US$ 200 bilhões para o campo de Libra, também no pré-sal, licitado em 2013. A avaliação do mercado um dia após o anúncio da contratação direta é de que o projeto exigirá muito mais do caixa da empresa, o que contribuiu para desvalorizá-la.
A perspectiva de que os gastos da estatal vão crescer nos próximos anos e de que faltam fontes de recursos continuou incomodando o mercado nesta quarta-feira, 25, com quedas nas cotações. As ações ordinárias (com direito a voto) caíram 3,34% e as preferenciais, 1,98%. Em dois dias, o valor de mercado (multiplicação do total das ações pela cotação final do pregão) da Petrobrás recuou R$ 13,25 bilhões, para R$ 217,65 bilhões.
Confirmado, o investimento em plataformas e infraestrutura corresponderá a US$ 35 bilhões em cinco anos, no mínimo, ou a um adicional na área de Exploração e Produção da Petrobrás de 22%, considerando os US$ 153,9 bilhões previstos para a área no Plano de Negócios da companhia, relativo ao período de 2014 a 2018.
As condições geológicas e técnicas das áreas são parecidas, o que permite comparar as áreas envolvidas na contratação direta - Búzios, Entorno de Iara, Florim e Nordeste de Tupi - e Libra, disse Adriano Pires, diretor do CBIE. A diferença está na dimensão das reservas. Em Libra, são 8 bilhões de barris de óleo equivalente (boe, que inclui gás natural) e nas quatro áreas variam de 9,8 bilhões a 15,2 bilhões.
“É claro que se trata de um número aproximado, porque pode ser que a Petrobrás realmente consiga reduzir de alguma forma o custo por aproveitar infraestruturas já existentes, como mencionou a presidente da estatal, Graça Foster. Mas o investimento por barril não fugirá muito daquele de Libra”, disse Pires. Na área licitada ano passado, cada 1 bilhão de boe deve custar US$ 25 bilhões à Petrobrás e aos seus sócios.
Além de avaliações negativas pela maioria dos analistas de bancos e corretoras que acompanham a empresa, o anúncio gerou dois rebaixamentos de recomendação a investidores. O UBS mudou a recomendação de compra para neutra, diante do aumento da percepção de risco relacionado à governança corporativa. Já o Bradesco, segundo operadores de mercado, alterou a avaliação de “desempenho acima da média do mercado” (outperform, no jargão da Bolsa) para “em linha com o mercado” (market perform), diante da percepção de que o contrato é ruim para a companhia.
O BTG Pactual alertou para o aumento do risco de que a empresa recorra a novo aumento de capital em 2015. Os analistas Gustavo Gattass e Andres Cardona avaliaram, em relatório, que o mercado não deve gostar do novo acordo, mesmo que possa ser economicamente bom, porque vai pressionar ainda mais o balanço da estatal.
Entre tantos questionamentos sobre as condições da contratação direta da Petrobrás pela União está também o quanto esse investimento irá prejudicar os demais projetos do pré-sal, segundo um analista de banco que preferiu não se identificar. / COLABOROU VINICIUS NEDER
Fonte: Estadão - 25/06/2014
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