Maquete do templo da Igreja Universal |
A
revista Época dessa semana traz uma reportagem especial sobre a construção de
megatemplos cristãos em todo o Brasil, e ressalta a força que tanto evangélicos
quanto católicos possuem no país.
Apresentando
projetos de templos que estão com suas obras em andamento, a reportagem lista
construções de templos católicos e evangélicos, que abrigarão de 10 a 150 mil
pessoas, entre elas a Cidade Mundial, da Igreja Mundial do Poder de Deus, e o
Templo de Salomão, que está sendo erguido pela Igreja Universal do Reino de
Deus.
A
reportagem ouviu pessoas a favor e contrárias à construção de templos
grandiosos, arquitetos que participaram dos projetos, e especialistas que
tentam explicar o crescimento fenomenal do neo-pentecostalismo no Brasil. Uma
das explicações para a construção de megatemplos como os que a reportagem cita,
é que esses locais trariam benefícios indiretos aos fiéis: “Quando se vê no
meio da multidão, o fiel sente que não está sozinho na fé”, afirma o deputado
federal e pastor Marco Feliciano, do Ministério Tempo de Avivamento.
Leia
abaixo a íntegra da reportagem publicada pela Revista Época:
A
Igreja Católica inaugurará no ano que vem o Santuário Mãe de Deus, em São
Paulo, com capacidade para 100 mil pessoas. Ela já é considerada a maior igreja
católica do mundo. Sua construção é financiada com o dinheiro de doações e foi
iniciativa do padre Marcelo Rossi. Boa parte do dinheiro até agora é
proveniente da venda do CD e do livro Ágape (Editora Globo). Juntos, já foram
comercializadas cerca de 9 milhões de cópias. Ele explica porque decidiu
investir nesse tipo de obra. “Os brasileiros têm necessidade de grandes
basílicas e catedrais, de lugares grandes para congregar e orar”, diz o criador
do Mãe de Deus.
Tudo
foi minuciosamente planejado. “Um espaço que leve à reflexão não pode ser
confundido com um auditório ou ginásio. Um local profano pode acomodar as
pessoas, mas não ajuda na experiência religiosa”, diz Ruy Ohtake, arquiteto
responsável pelo projeto do Santuário. Haverá espaço para restaurantes e o
padre Marcelo deseja que a visão que os fiéis têm do altar seja totalmente
livre. “Quero que as pessoas me vejam de qualquer parte, e quero poder vê-las”.
A igreja não terá colunas, privilegiando a visão e a participação acima da
introspecção.
Enquanto
isso, a Catedral
Cristo Rei, vai abrigar até 25 mil pessoas quando for inaugurada, dento de três
anos na capital de Minas Gerais. O arcebispo de Belo Horizonte, dom Walmor de
Azevedo, em cuja arquidiocese está sendo construída a Catedral Cristo Rei,
acredita que “A fé cristã não é para ser vivida apenas individualmente”.
A
construção de templos para multidões é um fenômeno histórico e mundial. Os
católicos sempre investiram em grandes igrejas, chamadas de basílicas e
catedrais. Os muçulmanos, seguindo os ensinamentos de Maomé, também edificaram
grandes mesquitas como prova do vigor de sua fé. As igrejas evangélicas tem uma
história mais recente em construções desse tipo. Os primeiros foram nos Estados
Unidos e Coreia do Sul ainda na década de 1970, mas logo se espalharam pelo
mundo. Por exemplo, a Winners Chapel (Capela dos Vencedores), na Nigéria, reúne
250 mil fiéis
Os
evangélicos também têm várias megaconstruções em andamento no Brasil. Em
Guarulhos, na Grande São Paulo, a Igreja Mundial do Poder de Deus constrói a
Cidade Mundial, que poderá receber até 150 mil pessoas. No Recife, a Assembleia
de Deus conclui o projeto de um templo para 30 mil pessoas. Em Belo Horizonte,
a Igreja Batista de Lagoinha planeja acolher 35 mil pessoas. “Quando se vê no
meio da multidão, o fiel sente que não está sozinho na fé”, explica o pastor
Marco Feliciano, do Ministério Tempo de Avivamento.
No
começou nos anos 1980 as igrejas evangélicas brasileiras começaram a comprar
grandes salas de cinema, com capacidade para até 2 mil pessoas. Na década
seguinte, passaram a construir edifícios majestosos como a Catedral Mundial da
Fé, sede da Igreja Universal do Reino de Deus, no Rio de Janeiro, que abriga 15
mil fiéis.
“Erguer
um templo grandioso é uma forma de se impor perante as demais denominações e de
mostrar que ‘somente aqui você encontra Deus’”, explica Brenda Carranza,
cientista social da PUC/Campinas e autora do livro Catolicismo Midiático.
Para alguns estudiosos, a motivação para a construção dos grandes templos é a afirmação de cada uma das igrejas ante as demais. Ricardo Bitun, professor de ciências da religião da Universidade Mackenzie, entende que, quando uma igreja constrói um megatemplo, de forma simbólica está provando que não é um movimento religioso efêmero. “É uma mostra de que tem raízes fortes e que veio para ficar, um marketing tremendo”, diz ele.
Para alguns estudiosos, a motivação para a construção dos grandes templos é a afirmação de cada uma das igrejas ante as demais. Ricardo Bitun, professor de ciências da religião da Universidade Mackenzie, entende que, quando uma igreja constrói um megatemplo, de forma simbólica está provando que não é um movimento religioso efêmero. “É uma mostra de que tem raízes fortes e que veio para ficar, um marketing tremendo”, diz ele.
Os
novos megatemplos católicos parecem mostrar que as Igrejas católicas não querem
ficar de fora dessa competição. A preferência por esses grandes templos também
reflete o fenômeno da transformação de padres e pastores em ícones pop, capazes
de atrair multidões. “Os megatemplos se convertem em megapalcos”, diz Carranza.
Os
líderes religiosos que ficaram famosos pela televisão podem hoje ser comparados
aos artistas. “As grandes igrejas dependem de uma figura carismática”, explica
Jeane Kilde, diretora do Programa de Estudos Religiosos da Universidade de Minnesota, Estados
Unidos.
Um
dos grandes projetos de edificações religiosas no país é o Templo de Salomão,
da Universal. Mas suas obras estão quase paradas por questões econômicas. Para
poder terminar essa obra, a IURD precisa comprar um prédio no cruzamento da
Avenida Celso Garcia com a Rua Júlio César da Silva, centro de São Paulo. Dos
40 apartamentos, apenas 30 já foram comprados. Estima-se que cada um tenha
custado entre R$ 300 mil e R$ 350 mil. Se apenas um proprietário se recusar a
vender, o prédio continuará de pé, e o projeto do Templo de precisará ser
revisto.
Alguns
moradores acusam a Igreja Universal de fazer pressão e forçar a saída dos
condôminos. “Eles não estão pagando condomínio dos 30 apartamentos que já
compraram”, disseram dois desses moradores em entrevista à ÉPOCA. Dizem ainda
que os contratos para manutenção dos elevadores, interfones e circuito interno
de TV foram cancelados. “Estão nos estrangulando, mas aguentaremos até onde
der”, reclamam. Procurada, a Universal não quis falar sobre o assunto.
O
Templo de Salomão não será apenas para realizar cultos. O espaço terá
apartamentos que serão usados pelo bispo Edir Macedo. O apartamento de Macedo
tem 740 metros quadrados, academia de ginástica, jardim interno e quatro suítes
com banheira de hidromassagem (a principal com jacuzzi de 3,5 metros x 4
metros). O apartamento fica atrás da nave, no 7º andar. No 8º andar, há uma
área de lazer com 176 metros quadrados com churrasqueira, sauna e outra
jacuzzi. “É um projeto suntuoso”, diz um arquiteto que trabalhou na elaboração
da planta.
Os
megatemplos de hoje, católicos ou evangélicos, seguem o padrão dos Estados Unidos.
Mas por lá, o movimento “mega” que começou há 30 anos, está em declínio. Em
parte por causa da crise, não há mais grandes igrejas sendo construídas. As
pessoas que antes achavam conforto na multidão sentem falta da relação pessoal
que encontravam nos espaços menores, em que o pastor ou o padre conhece cada um
pelo nome.
“Os
fiéis descobrem que querem um contato mais direto com o Divino, que não
conseguem a partir de sermões impessoais”, afirma Kilde. O pregador que se
dirige a uma multidão precisa tratar, necessariamente, de temas genéricos.
“Como é impossível falar com um deles de cada vez, a palavra tem de tocar o
coração da maioria”, diz o pastor Marco Feliciano.
Um
bom exemplo disso é a empregada doméstica Rosângela Benção, de 33 anos. Ela
explica que nos dias de semana, frequenta uma igreja Deus é Amor, com cerca de
80 pessoas. Porém aos domingos vai ao culto no Templo da Glória, sede mundial
da igreja de David Miranda, que abriga 60 mil pessoas. Ela afirmou à revista,
sentir a “presença de Deus” nos dois locais, mas no Templo da Glória, a
sensação é mais forte: “Quando você vê tanta gente dando glória (a Deus), sente
uma fé maior”. (G+)
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