São Paulo: O Crescimento desvairado da Paulicéia
A maior cidade brasileira completa 456 anos nesta segunda-feira. Ao longo do tempo, São Paulo, capital do estado que concentra cerca de 35% de toda a riqueza produzida no país, atravessou um crescimento desvairado. A explosão demográfica e urbana, que se intensificou a partir da segunda metade do século passado, deram a forma da metrópole que hoje que abriga mais de 11 milhões de pessoas.
Em 1971, VEJA espalhou uma dezena de repórteres pelas ruas de São Paulo para verem de perto as mudanças que começavam a desenhar a cidade que conhecemos hoje – e que não para de se transformar. “É esse o ritmo da mudança infatigável da cidade - nunca foi tão acelerada, nunca a Paulicéia cresceu tão desvairadamente como nos últimos 10 anos“, dizia reportagem da época. Naquele ano, São Paulo já era a maior cidade do Brasil, mas contava “apenas” com 6 milhões de habitantes e o metrô, essencial pra mobilidade na cidade hoje, ainda nem havia sido inaugurado.
Um dos principais símbolos cravados no centro de São Paulo, a praça da Sé, ganhou uma reforma em 1978, quando foi inaugurada sua estação do metrô, que reunia sob o marco zero da cidade as linhas norte-sul, leste-oeste. Os números impressionavam: na estação do metro empregou-se um volume de concreto armado superior em 10% ao que foi usado para construir o estádio do Maracanã. O espetáculo das obras contou com mais de 2.500 operários e a praça chegou a ser comparada a “uma Itaipu urbana”.
A reforma logo transformou a praça e a estação da Sé no maior cartão-postal da cidade nos anos de 1980. “A velha praça começou a ganhar um monumento subterrâneo destinado a atravessar o século XXI sob os mesmo olhares reverentes reservados nas últimas décadas à estação da Luz, relíquia do século XX“, descrevia uma reportagem de VEJA em 1982. Além da praça, dois outros símbolos redesenhavam a paisagem paulista. A moldura da Marginal Pinheiros ganhava o perfil do shopping center Eldorado, enquanto na marginal Tietê foi inaugurado o segundo entre os maiores terminais rodoviários do mundo.
São Paulo continuou a crescer desordenadamente – quase incontrolavelmente. Sem que a população percebesse, mudavam os hábitos da cidade, mudava a maneira de viver de sua gente. Aos poucos, a capital se fragmentava, expandia seus bairros e perdia seu centro. Vinte e cinco anos depois da primeira grande reportagem sobre a capital paulista, repórteres de VEJA relataram a degradação do coração da cidade. O centro de São Paulo passou a ser um lócus privilegiado das mazelas sociais da metrópole. Para o paulistano, ele havia se tornado em sinônimo de violência, insegurança e descuido. A boa - e nova - notícia era que prefeitura e sociedade começavam a se mobilizar para melhorar essa situação.
“São Paulo, comoção da minha vida!”, cantou o poeta Mário de Andrade. Sua São Paulo era o centro. Era um tempo em que se nascia, amava e morria no centro. O próprio Mário de Andrade nasceu no centro: “Na Rua Aurora eu nasci/Na aurora da minha vida…”. E no, ao morrer, queria derramar-se em estilhaços pela cidade — vale dizer, pelo centro: “Meus pés enterrem na Rua Aurora/No Pátio do Colégio afundem meu coração paulistano…”
Fonte: Veja.com
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