Sistema garante
privacidade dos dados entre quem manda e recebe a mensagem
Rio - A preocupação com a privacidade de dados dos usuários que navegam na
internet ganhou as salas dos centros de excelência de estudos da Universidade
de Harvard e do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), nos Estados
Unidos. Os estudantes das unidades criaram um serviço de e-mail que seria
blindado à espionagem da Agência de Segurança Nacional (NSA) do país. O ProtonMail já
está em fase de testes e é aberto ao público comum.
Os estudantes defendem
que o serviço tem mais segurança do que o Lavabit, antigo programa usado por
Edward Snowden na divulgação do monitoramento de órgãos públicos em contas
governamentais e civis.
Entre os diferenciais
apontados estão a criptografia ‘end to end’, em que a mensagem não pode ser
receptada por qualquer pessoa que não seja a emissora e a receptora do
conteúdo. E, também, a localização dos servidores do ProtonMail na Suíça, um
dos países com leis mais rígidas sobre a proteção de privacidade.
Presidente da Organização
Não-Governamental SaferNet, Thiago Tavares defendeu ser essencial para o futuro
da democracia a proteção da privacidade do usuário. Ele lembra que a segurança
é feita em camadas.
“Os documentos
divulgados por Edward Snowden comprovaram que a interceptação de dados ocorre
no transporte de infraestrutura de dados e não apenas na aplicação. A
criptografia citada seria nova tentativa de neutralizar o agente da
interceptação das informações que estão na ponta, ou seja, tanto para quem
envia quanto para quem recebe”, explica.
Contudo, para Tavares,
isso não significa que os laboratórios da NSA não sejam capazes de quebrar a
segurança dos códigos, pois não existe 100% de segurança. “A agência está pelo
menos dois anos a frente no sentido estratégico na atuação da análise de novos
dados”, explica o presidente da entidade.
Ele cita que o governo
brasileiro tem sido alvo de interesse de diversos setores mundiais devido ao
pré-sal e também pela atuação de empresas como Embraer, Vale e Petrobras, que
possuem informações sensíveis de valores imensuráveis. O presidente ainda
destaca o compartilhamento de dados entre países que compõem o grupo chamado
“Five Eyes”: Estados Unidos, Austrália, Canadá, Inglaterra e Nova Zelândia.
A facilidade na troca
de informações entre as potências deveria despertar mais agilidade no governo
brasileiro, no sentido de se empenhar na preservação dos dados. “Há um avanço
tímido, o Brasil ainda tem muito dever de casa para fazer. É necessário
implementar política de estado e não de governo, pois este é transitório.
Acredito que esse problema terá respostas médias, levando pelo menos cinco
anos”, afirma.
Brasil tem oito
satélites de comunicação alugados
Thiago Tavares cita
ainda que o Brasil tem oito satélites que possuem autorização para operar no
país. Porém, todos os equipamentos são alugados. As unidades servem de ponte
para o tráfego de dados, inclusive, os que são das Forças Armadas. O primeiro
satélite brasileiro deve ser lançado até 2016.
Outra questão apontada
por Tavares é a necessidade de se pensar em um modelo de gestão própria,
agregando as ações estabelecidas pela Agência Brasileira de Inteligência
(Abin), o Exército, o Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da
República, entre outros setores.
Sobre a troca de
informação entre as pessoas comuns, o especialista ressalta ser necessário
ocorrer uma mudança cultural entre os usuários. Ele acredita que esse processo
vai demorar.
“Atualmente, a
sociedade valoriza a exposição em troca de prestígio nas redes sociais. Toda
mudança de paradigma leva tempo e com o uso da internet não será diferente”,
prevê. Na edição do último domingo, O DIA mostrou que o mapeamento dos hábitos
de navegação tem sido responsável por novos golpes na internet.
Usuários ainda temem
por ataques
A criação de um sistema
de e-mail contra espionagem é vista com ressalvas pelos usuários, que têm
incertezas sobre a segurança blindada. Para o assistente multimídia, Fernando
de Souza, 27 anos, é difícil existir um programa completamente seguro.
“Tenho familiaridade
com a internet desde muito novo e sempre me protegi e me interessei pelas novas
formas de segurança. Mas faço isso como medida pessoal. Por exemplo, uso
antivírus e não acesso o meu e-mail em lugares que não são confiáveis,” ensina.
A jornalista Priscilla
Oliveira, 28, também é incrédula: “Sou muito desconfiada em todas as situações,
principalmente, com a segurança dos meus dados pessoais. Então, não tenho rede
social com informações abertas e uso todas as medidas de proteção no meu
computador.”
Projetos para aumentar
a segurança
A espionagem dos
Estados Unidos não causou desconforto apenas aos países monitorados. Os
próprios americanos também ficaram apreensivos, cita Alexandre Freire,
especialista em Segurança da Informação e professor da UFRJ. Segundo ele,
existem alguns movimentos no Brasil com o objetivo de criar serviços para
oferecer um e-mail mais seguro aos cidadãos brasileiros.
Freire lembrou que o
Serviço Federal de Processamento de Dados (Serpro) estava trabalhando em
projeto para melhorar a segurança das operações na internet. Uma das questão em
debate é a proteção do e-mail do Brasil enviado de dentro do país para a
própria federação, sendo que a grande rede tem o seu uso global.
“Esses e-mails não
poderiam ser enviados para fora do país. A segurança existe até um determinado
perímetro porque essa mensagem precisa deixar a sua infraestrutura e ser
encaminhada para outra”, ressaltou o especialista Alexandre Freire.
Fonte: O Dia - 21/05/2014
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