A nova classe média desembolsará R$ 100 bilhões
neste ano em pagamento de juros, mostram estudos do governo encomendados pelo
ministro da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência, Wellington
Moreira Franco.
Conforme disse o ministro em entrevista ao G1, os dados foram levantados por técnicos da secretaria para o III Fórum do Banco Central sobre Inclusão Financeira, realizado entre esta segunda (21) e quarta-feira (23).
"Nos estudos, levantamentos técnicos, se descobriu que a nova classe média está pagando [neste ano] R$ 100 bilhões de juros e ela declara, nos números oficiais, a percepção de pagar R$ 3 bilhões. Quando a classe média compra um produto, o juro está embutido naquele preço, mas ela não sabe que o juro está ali", afirmou o ministro.
O montante corresponde a quase metade de toda a despesa do governo federal nos últimos doze meses com pagamento de juro da dívida pública, de R$ 230 bilhões.
Dados do governo federal indicam que a nova classe média, ou classe C, é formada por 95 milhões de pessoas, com renda familiar mensal entre R$ 1 mil e R$ 4 mil. Juntos, esses brasileiros somam 52% da população brasileira.
Transparência
Incumbido pela presidente Dilma Rousseff de traçar políticas para "preservar" o público das classes D e E que migrou para classe C nos últimos dez anos - cerca de 30 milhões de pessoas -, Moreira Franco avalia que os dados sobre pagamento de juros mostram que é preciso "esforço" pela transparência das informações. ....
"Para se ter ideia, essa nova classe media é responsável por colocar no mercado coisa em torno de R$ 1,1 trilhão. É algo maior do que o PIB de Portugal. Esse segmento é uma base que precisa ser preservada. Isso significa que temos que começar esforço no sentido de dar mais transparência ao consumidor, na propaganda. Para que ela [classe C] saiba o que é o preço e o que é juro pago", disse.
O ministro também disse que o governo brasileiro pretende convocar autoridades, instituições e redes varejistas para discutir o assunto. "Processo de avanço social é isso. Estudar a realidade social, perceber com números como está, e garantir o desempenho da cidadania justo, correto."
Bolsa Trabalhador
Outro ponto que o ministro destaca para a manutenção da nova classe média no Brasil é a qualificação de empregados e auxílio aos trabalhadores que ganham até dois salários mínimos. De acordo com Moreira Franco, um projeto sobre o tema está em fase de conclusão e deve ser apresentado "em breve" para a presidente Dilma Rousseff. Mas, segundo ele, ainda não se sabe o valor do auxílio.
"A gente tem programas de qualificação do desempregado, mas não para o empregado. Precisamos de uma bolsa emprego para estimular a produtividade. Isso tudo é uma possibilidade de combater a inflação com aumento de produtividade. Hoje, só combatemos com aumento de juro."
Moreira Franco destacou que a missão da SAE é formular políticas públicas com efeitos de longo prazo. "Na medida em que você não começa a tomar medidas concretas hoje, não pode obter nenhum resultado no futuro. (...) A classe média é um ativo fundamental para pensar o Brasil no futuro."
Primeira Infância
A SAE também prepara projeto, conforme o ministro, para unificar todas as políticas do governo federal para a chamada primeira infância, formada por crianças de até 4 anos.
"Há muitos agentes de saúde, instituições públicas, centros de apoio, programa pré-natal. A ideia é juntar tudo isso como foi feito no Bolsa Família. Uma única porta de entrada para que a mãe não fique perdida nesse emaranhado de ofertas [de serviço público]", afirmou o ministro.
A ideia, disse, é acompanhar o desempenho da criança nessa faixa etária para reduzir a desigualdade e "criar uma base mais sólida de formação". Segundo ele, programa está "relativamente desenhado" e também deve chegar "em breve" às mãos da presidente Dilma.
Defesa
Ao G1, Moreira Franco também comentou a situação das Forças Armadas no país. Reportagem publicada nesta terça-feira (22) pelo jornal "O Estado de S.Paulo" apontou o sucateamento das Forças Armadas no Brasil. A SAE também é responsável por projetos na área de defesa.
"Claro que o governo tem consciência disso e há um problema que vamos ter que resolver que é a questão de poder. E poder significa prioridade. E essa prioridade se verifica no Orçamento."
O ministro diz acreditar que a área de Defesa "ainda não é" uma prioridade para o governo brasileiro. "Queremos ser a quinta economia do mundo. Temos que ter condições de independência, de autonomia. Temos o pré-sal, a questão da fronteira. (...) O Orçamento precisa permitir que o dinheiro da Defesa não seja contingenciado. O ônus é muito alto", disse ele. (G1 Notícias)
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