Uma eventual vitória do candidato tucano à Presidência, José Serra, tem mais chances de provocar mudanças no atual modelo macroeconômico do que a manutenção do PT no poder, caso Dilma Rousseff se eleja. Na verdade, não se deve esperar alterações drásticas de nenhum dos dois potenciais presidentes. Assessores de ambos, como os economistas Geraldo Biasoto Junior (de Serra) e Nelson Barbosa (de Dilma), têm deixado claro que não há nada para colocar no lugar do tripé câmbio flutuante, superávit primário e metas de inflação. Biasoto, porém, tem fortes críticas à forma como o arranjo macroeconômico vem funcionando. Diretor executivo da Fundação do Desenvolvimento Administrativo (Fundap), de São Paulo, e assessor do programa de governo de Serra, ele diz que “falta, no caso das metas da inflação, o resto da política econômica, os outros instrumentos - crédito, preços macroeconômicos como energia elétrica e combustíveis -, e um Banco Central menos passivo no câmbio”. Na questão cambial, Biasoto considera que “existe hoje uma passividade que não se encontra em lugar nenhum do mundo”. Ele afirma que os BCs em geral “estão o dia inteiro no mercado cambial”, enquanto no Brasil “no final do dia ele compra as sobras de mercado e ponto final”. Para o economista, essa falta de um BC mais ativo no câmbio, aliada à alta liquidez internacional, permite que os participantes do mercado formem um consenso em torno da valorização do real. Segundo o economista, a ideia de Serra é de um Banco Central que “vai entrar no mercado de câmbio formando taxa fundo com o mercado, assim como forma taxa de juros”. Biasoto também bate na tecla de que há hoje uma desconexão entre o Ministério da Fazenda e o Banco Central, tanto em termos de política cambial como fiscal. No primeiro caso, “quando a Fazenda olha e vê um BC que não faz nada, ela inventa um outro BC, faz o Fundo Soberano, sai comprando dólares quatro anos antes de precisar remeter para pagamento de dívida, cria IOF, etc”. Já no lado fiscal, ele se recorda do início do ano, quando a Fazenda mantinha a política de incentivos fiscais, o BNDES expandia crédito (financiado com recursos do Tesouro), o Banco do Brasil e a Caixa davam crédito “a rodo” e, enquanto isso, “o BC decidia se ia elevar a Selic em 2% ou 3%”. Todos esses comentários de Biasoto apontam para uma “harmonia” entre Fazenda e o BC, algo que não parece trivial caso um dos dois não tenha ascendência sobre o outro. O mais plausível, nesse caso, é o que vigorava em muitos países antes da onda de disseminação do conceito de Banco Central autônomo na década de 90: um arranjo em que o BC integra-se à Fazenda. (Diátrio de Notícias)
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